domingo, 13 de março de 2011

Palavras ao veneno

Hoje falo aquele que desce pela minha garganta queimando lentamente. Roubo suas horas calmas sem pressa de voltar. Canto como pássaro na gaiola sem medo de esquecer os próximos versos. Esqueço que me despreza e dou um beijo de adeus. Canto com minha garganta ainda embargada por você que escorre por caminhos bem planejados. Roubo sua voz para mostrar quem é. Canto com seus passos ainda retumbando no meu peito, grito leve de quem ainda tem dor. Grito arrepiado de quem sente o veneno voltar no contra fluxo. Desligo o telefone e deito embaixo da cama, apesar dos fantasmas. Escondo-me em um segundo abrigo, divido meu peito e entrego uma parte. Escuto minha respiração no escuro, tateio em busca das folhas soltas. Cordas arrebentadas e não sei exatamente como voltar, farejo o caminho em busca de luz. Cheiro a vela que você decompôs no ralador. Cubro meus ouvidos com o travesseiro suado. Damos as mãos mas seu olhar ainda faz arrepiar a nuca. Deitamos sob a noite nublada, e quando olho para o lado há ninguém. Hoje canto e o microfone está quebrado, as mãos que repousam no meu ombro, não sei exatamente o que querem dizer, não sei o que diz minha própria mão tremula tateando na terra solta. Você ainda escorre lento e me leva aos poucos; e leve, lave logo. Desague nesse estômago sofrido, desabrigue esta face deformada. Leve o que quiser, pois estou voltando e deixo uma parte.