terça-feira, 5 de abril de 2011

Atração fatal

O beijo de despedida que se aproxima até pegar fogo. As pálpebras descamando histórias inacabadas. Foi tão cedo, um pequeno deslize e tudo se espalhou pelo chão. Foi tão rápido e subiu pelas paredes. Foi tão estúpido e veio abaixo. Desmoronamento silencioso, os berros foram abafados, sufocaram antes que as cinzas tocassem o chão. O céu tingido de vermelho misturou suas cores e escorreu. Como pudemos acreditar em recomeçar sozinhos com total força se abandonamos o motor em casa. Sem ele não podemos fazer a distribuição de forma adequada. Sempre estou voltando a um ponto de partida posto que tenho vários. Aposto mais fichas e temo mais, e tremo mais. Um distúrbio de qualquer ordem, é sempre um distúrbio. Uma desordem qualquer na qual nos dispomos sem pressa. Mas já estamos ficando indispostos. Não acordamos mais, não dormimos mais, nos alimentamos de besteiras que encontramos com facilidade. Sirvo seu prato com paciência e você come cuidadosamente. Esperamos o sol raiar e podemos ir embora. Vá buscar suas roupas no varal distante e deixe o excedente pelo caminho antes que alguém escolha por você. O canto escuro não é real antes da meia noite. O toque leve não arrepia mais que um olhar. Nos abraçamos e rezamos baixinho pedindo que vá. Temo que ataque com mais força por lhe dizer que deve partir agora. Cascas, cascas, cascas. Cascas cobrem o chão, um lobo uiva a distância. Sou eu no alto do morro uivando como que pede para olhar também do alto. Mas tenho patas cansadas, cheias de grama e orvalho. Minhas orelhas felinas estão ensurdecidas, deito na minha almofada macia, lambo meus pelos e bebo leite com biscoitos. Abro minha asas, alongo, escuto o estalar dos ossos e o peso dos anos, não sou mais capaz de voar e ser a própria lua. Sou rua, e debaixo do asfalto tento brotar. Escovo sempre antes de dormir, mas quando acordo ainda é combustão. Desmorona.

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